30.10.06

As ONGs do Comissário Micalba

Semana passada circulou pela Internet um e-mail dizendo que uma ONG chamada Sociedade dos Amigos de Plutão conseguiu oito milhões do Congresso Nacional e do PT para fazer lobby para o ex-planeta. Não sei se o dinheiro era apócrifo mas a ONG parecia real, já que o Ney Suassuna estava num vídeo denunciando a sua existência. Mas como o Ney Suassuna também é meio apócrifo, tenho minhas dúvidas.
De qualquer jeito, a matéria de capa da EXAME desta semana é intitulada "ONGs - Os novos inimigos do capitalismo", e o texto diz basicamente que as ONGs faturam uma nota mas se recusam a dizer de onde ele vem - e se recusam também a se submeter a qualquer tipo de controle. Assim mais ou menos como o PT.
Uma investigação do Comissário Micalba (foto) revelou os corpos mais estranhos da ONGosfera:
VESPA - VEenerável Sociedade Protetora dos Adúlteros - A VESPA foi (de verdade) fundada no auge do affair Lewinski/Clinton pelo Mestre dos Mestres Auberon Waugh como The VEnerable Society for the Protection of Adulterers. O alter ego do Micalba faz parte do Capítulo Irlandês. Seus integrantes se comprometem a bancar entre eles os melhores álibis possíveis; de resto, o nome já diz tudo.
MERDA - Movimento Estudantil Renovador Das Américas - O provável sucessor da UNE. O "Das Américas" é uma projeção tranfigurada do id do Hugo Chavez, e os membros da MERDA são normalmente gente muito nova mas com a cabeça cheia de idéias muito velhas. Seus integrantes se propõem a preservar a barbicha do Lenin, os cabelos do Che, o pijama do Mao, a brilhantina do Peron e a conta bancária do filho do Lula. Tudo o que eles fazem dá em MERDA, mas nem assim eles se mancam.
BUFA - Brigada Universal dos Flatulentos Anônimos- Organização destinada a desencorajar a discriminação politicamente incorreta aos peidões incorrigíveis. Os novos membros se submetem a uma perigosíssima cerimônia de iniciação na qual o novato deve tomar o elevador na companhia dos membros do Conselho Diretor depois de um almoço de salada de repolho, feijão branco , ovo e cerveja preta em temperatura ambiente. Os sobreviventes podem atingir o ápice do politicamente correto quando se tornam irmãos de sangue da tribo dos Mãos Amarelas - um ramo dos Lakota (Sioux Dakota em argot politicamente incorreto) que praticamente foi auto-exterminado por intoxicação por gases venenosos internamente produzidos.
FODA-SE - a Federação Organizada Das Associações Sustentáveis Economicamente - chamada por seus inimigos de Federação Organizada Das Associações Supostamente Ecológicas. A ONG de todas as ONGs, o máximo denominador comum. O Sustentável Economicamente com toda a probabilidade vem dos seus impostos, mas conforme diz a própria sigla, FODA-SE.

Os logs de hoje são dedicados...

... àqueles que sabem que seeing the Backs in all their glory pode significar mais do que passar um dia na praia de Ipanema. Bem vindos!

Exorcismo

E se você é da área de exatas, diga estas duas palavras se precisar espantar um Oxonian com complexo de superioridade:
- Isaac Newton.

Dominus Illuminatio... quid?

E olhe o lema deles: um monte de ateus e agnósticos repetindo "Deus é a minha Luz". Hipócritas.

Enquanto isso, Cambridge tem aquela musa voluptuosa segurando uma lanterna e um copo e o "Hinc lucem et pocula sacra" - "Com esta luz e esta bebida sagrada".

Subliminarmente, o sonho de todo estudante de engenharia: uma dama peituda, um copo cheio e uma lanterna para achar o caminho de casa na volta. Sinceridade é outra coisa.

Incêndio na Bodleian

Mesmo assim, o Micalba se solidarizou com os Oxonians quando soube do incêndio da Bodleian. Eles ficaram inconsoláveis: ainda não tinham acabado de colorir metade dos livros.

Aconselhamento Acadêmico

Há muitos anos atrás o Micalba pensou em estudar em Oxford, e procurou um conselheiro educacional - em síntese, um guru. O sábio homem ouviu o trêfego aluno em potencial, contemplou longamente os seus joanetes em busca da sabedoria e finalmente disse com pronunciado sotaque chee-chee:
- Você gosta do Natal?
- Sim, Mestre.
- Então desista de Oxford. Lá não tem Natal.
- Como?
- They can't find three Wise Men and a virgin in the whole place.

25.10.06

Lições de Lógica do Prof. Dr. Micalba

A cinco dias da eleição o Alckmin deu pelo menos uma dentro: falou que o Lula quer eternizar a pobreza. Tem lógica.Apesar de agora Filosofia fazer parte do currículo do 2o. Grau (eu acho), os professores ficam enchendo o saco dos alunos com a Caverna do Platão e os coitadinhos ficam sem lições elementares de Lógica, e muito menos fazem idéia das aplicações práticas da disciplina.Assim, o Micalba resolveu convidar o Professor Doutor Micalba, Lente de Lógica e Origami na Universidade Livre e Assumida da Cova da Periquita (Ribatejo) para demonstrar algumas conclusões lógicas sobre temas diversos, ao mesmo tempo advertindo os incautos. Vamos a elas:
1 - Se você não é rico, nunca vote no Candidato dos Pobres, quando nada porque ele depende deles para se eleger. E não só o interesse do candidato é que eles continuem pobres, como também que os ricos fiquem pobres - e passem a votar nele. E se todos forem ignorantes de quebra, melhor.
2- A emissora de televisão não tem a mínima obrigação de fornecer uma programação de bom gosto e alta qualidade, porque ela não ganha um tostão com isso. O dinheiro vem dos anúncios, e a programação não passa de uma forma de encher lingüiça entre um anúncio e outro.
3 - Continuando, existe uma forma muito melhor de controlar a qualidade da programação de TV do que duzentas ONGs e uma Sociedade Civil Organizada juntas. Chama-se controle remoto.
4- Se você é Criacionista e acha que o Mundo foi feito por Deus em sete dias, não tome antibiótico se tiver uma infecção. O prêmio da indústria farmacêutica mundial para novos antibióticos chama-se Charles Darwin, porque os incréus partem da premissa que as bactérias se tornam resistentes aos antibióticos porque evoluem rápido, e os fungos usados nos antibióticos têm que evoluir na mesma forma. Assim, seja coerente. Os evolucionistas agradecem a sua defesa corajosa e intransigente de sua crença religiosa, a firmeza de sua posição e, num futuro próximo, a sua saída do pool genético, tudo em prol da Humanidade.

SPAM?

Todos os dias o Micalba recebe toneladas de SPAM, e fora um ou outro anúncio mais imaginativo todos se enquadram nas seguintes categorias:

- Um cara chamado Mwamba Kabuletê se identifica como ex-ministro da roubalheira da Répública de Xongas e pede a minha ajuda para retirar alguns milhões de dólares de um banco suíço;
- Anúncios de bingos eletrônicos ou de ações mágicas onde só se ganha;
- Métodos infalíveis para perder peso ou parar de fumar;
- Métodos ainda mais infalíveis para aumentar o pênis;
- Gente vendendo Viagra, Cialis e outros tipos de levanta-defunto.

Pensando bem, pode ser que os anunciantes não sejam a escória que os outros dizem, mas apenas gente interessada em ganhar algum dinheiro honesto - e ao invés de deletar tudo eu devia era responder aos anúncios. Vejamos a lógica por trás de tudo:

- Você ajuda o Mwamba Kabuletê a retirar o dinheiro e ele te dá alguns milhões de dólares;
- Você aposta os milhões ganhos no bingo eletrônico ou compra as tais ações e fica ainda mais rico;
- Já milionário, você decide parar de fumar e perder uns quilinhos, para melhor aproveitar a vida;
- Mas não vai abrir mão do sexo, e como você está cheio da grana está chovendo mulher. Mas o seu bilau é tão pequeno... Você decide incrementar o bilau e compra os aumentadores de pênis;
- Ao contrário do que previam as Cassandras, os métodos de aumentar o pênis dão certo. Certo demais: como você usou diversos deles ao mesmo tempo, sua jeba ficou maior do que a do Long Dong Silver. E como levantar aquela coisa gigantesca e pesadíssima? Com doses cavalares de Viagra e Cialis, é claro.

23.10.06

Ig Nobel é a mãe!

Escrevo essas mal traçadas linhas com os dedos todos doloridos e ralados de espinhos, porque passei o Domingo arrancando o mato das roseiras. E entre uma espetadela e outra eu pensava: porque é que algum geneticista nunca pensou em cruzar o mato com a rosa? Afinal de contas, a roseira é mais bonita mas o mato cresce muito mais rápido e é muito mais resistente, e nem precisa ser plantado.

E vai daí em me lembrei da lista dos vencedores do Ig Nobel deste ano, e acho que algumas injustiças devem ser corrigidas.

O Ig Nobel é em tese entregue às pesquisas mais inúteis do ano, e já teve entre seus concorrentes até gente que depois ganhou um Nobel de verdade. Mas na lista dos vencedores de 2006 tem gente que contribuiu muito mais para o progresso da Humanidade do que os vencedores do Nobel de verdade - pelo menos na minha compreensão. Foi-se o tempo em que todo o mundo entendia porque alguém ganhou o Nobel: hoje (fora o da Paz e o de Literatura) os prêmios são entregues a gente que fez coisas tão especializadas e obscuras que o público em geral não entende nada, e quando a imprensa tenta popularizar a explicação fica pior ainda. Assim: "Fulanovich de Talovski fotografou o elétron piscando um olho"; "Herr Von Mac descobriu que a Citosina usa sapatilhas cor-de-rosa" etc.

Por outro lado, algumas das pesquisas que ganharam o Ig Nobel deste ano tem notáveis aplicações práticas - a capacidade imaginativa dos organizadores do prêmio é que deixa a desejar. Assim, o Micalba resolveu chamar o Professor Doutor Micalba, PHD em Física Quântica e M Sc. em Podologia e Lente da Universidade Aberta e Escancarada de Monte dos Cabaços (Alentejo) para comentar a utilidade latente das invenções de alguns laureados do Ig Nobel de 2006 - maiores, diga-se de passagem, do que as do prêmio original:

- O Ig Nobel de Ornitologia foi para Ivan R. Schwab, da Universidade da Califórnia em Davis, e para Philip R.A. May da Universidade da Califórnia em Los Angeles, por terem explicado porque os pica-paus não tem dor de cabeça.
Comentário: "As conclusões desse utilíssimo trabalho são perfeitamente aplicáveis aos brasileiros: faz anos e anos que em época de eleição eles batem com a cabeça na parede, e no entanto são pouquíssimo afetados pelo processo - não conseguem sequer aprender com os erros do passado. Não deve doer nadinha."

- O Ig Nobel de Nutrição foi para Wasmia Al-Houty da Universidade do Kuwait, e Faten Al-Mussalam da Organização Kuwaitiana do Meio Ambiente, por mostrarem que os besouros-esterqueiros tem um paladar apurado, e não comem um esterco qualquer.
Comentário: "Também utilíssima para os moradores de Pindorama. A única explicação para uma tal voracidade para comer merda deve ser que a merda de alguns é mais gostosa do que a dos outros."

- O Ig Nobel da Paz foi para Howard Stapleton da Merthyr Tydfil, País de Gales, por inventar um repelente eletromecânico de adolescentes - um aparelho que emite um som desagradável audível para adolescentes mas não para adultos.
Comentário: "A utilidade de tal invenção fala por si só. Esperamos apenas que o Prof. Stapleton amplie as suas pesquisas e crie repelentes para outras criaturas potencialmente nocivas - sogras, operadores de telemarketing, locutores de rádio FM e petistas, por exemplo."

Ig Nobel de Medicina - Francis M. Fesmire da Universidade do Tenesse, e Majed Odeh, Harry Bassan, e Arie Oliven do Centro Médico Bnai Zion de Haifa, Israel, por descobrirem que a massagem digital no reto é um método infalível para curar soluços.
Comentário: "Depois de anos de pesquisas à esmo e da divulgação de remédios caseiros de eficácia duvidosa - levar um susto, respirar num saquinho, levantar os braços - enfim, um método eficiente, rápido e barato. Os sodomitas vão adorar, e mesmo nos machões empedernidos a solução é eficaz:
- Hiccup! Hiccup! Hiccup!
- Soluçando, hein? Eu conheço um método ótimo.
- Hiccup! Qual é? Hiccup!
- Baixe as calças que eu te mostro.
Mesmo que o paciente não permita que a intervenção milagrosa tenha lugar, só o susto deve servir."

Enfim, o que esperamos é que a turma do Nobel tenha mais critério daqui para a frente: chega de premiar uns caras que não passam de paparazzi preocupados apenas em flagrar partículas microscópicas em posições constrangedoras e vamos incentivar a descoberta de soluções pelas quais a Humanidade clama em uníssono desde a aurora dos tempos. Exemplos: o Nobel de Economia para quem descobrir um método eficiente de pagar o Visa com o Mastercard e vice-versa, o de Química para quem inventar o uísque diet, o de Medicina para quem descobrir uma cura infalível para a ressaca, o Nobel de Biologia para quem produzir em massa clones da Liv Tyler ou transformar em realidade o sonho do visionário Stanislau Ponte Preta: cruzar cabra com periscópio e conseguir um bode expiatório. Todo partido político vai querer meia dúzia.

A palavra final em digitofagia

O L. Bloom deu a palavra final na síndrome político-digitófaga:

"Dizem por aí que o PMDB, Partido dos Mordedores de Dedos do Brasil, anunciou que empregará estratégias agressivas de campanha para as eleições presidenciais de 2006. Vão comer mãos inteiras. Pra variar, há dois setores no partido: os que preferem a direita e os que simpatizam com a esquerda. "

21.10.06

VOTE EM MICALBA - THANKS FOR ALL THE FISH

O Micalba anda mais mal-agradecido do que político depois da eleição; então depois de um mês de blog é hora de por as coisas em dia e dar uma babadinha nos pobres coitados que tiveram o saco de ler e mandar comentários (e mandem mais, muito mais que eu gosto). Está em ordem cronológica para não ferir as suscetibilidades, já que os leitores do Micalba são pessoas por natureza sensíveis - mas homens ou mulheres ou gays prá caramba, é claro:

Ao Edson Aran, que leu o blog no principinho e achou "bom", o que vindo dele é um elogio moderado, que eu não sou besta. Mas me ajudou a entrar no Google. O Aran foi e continua sendo editor de um monte de revistas de gostosas (VIP, Playboy, hoje salvo engano está na SEXY ou algo assim - não sei com quantos "X" se faz essa canoa). Mas a vocação do gajo é para humorista; pena que nesta terra onde abunda a pita e a pita abunda poucos tenham cultura suficiente para rir de tudo... O link para o site dele - que é muito engraçado - está aí do lado.

Ao Adão Iturrusgarai, que se deu por satisfeito com os três oásis do Sheik - põe umas curvas decentes na Aline que eu dou o quarto, por Alá! Em nome da minha bisavó Marie e da Iparralde, saudações da Euskadia. Se tudo mais falhar, me convide para fundarmos uma República Separatista Basco-Brasileira: eu conheço um Orrutea, e nós três juntos podemos ocupar uma quitinete. Vocês providenciam os Calamares en Su Tinta que eu pelo lado francês ponho umas Blanquettes de Limoux no gelo.

Ao Radicci, que através do papai Iotti elogiou o blog e prometeu uns salames faz um tempão. Ainda estou esperando, carcamano safado!

Aos meus estagiários Ms. Mc Cleod Mytton, Sieur de Cavaignac e Nick the Scot, a forma mais baixa mas por outro lado mais fascinante da escala evolutiva: não precisa rir do Blog todo dia na minha frente, porque vocês são bons de serviço e o estágio está garantido. Vocês são como pimenta do reino: conviver com gente nova e inteligente adds life.

Ao meu amigo e companheiro politicamente incorreto Anônimo de Vila dos Ingás: continue lendo essa joça e mandando seus comentários, porque são todos bons. Pena que você e o Bloom não se conhecem - ou será que não? E vê se aparece, que a distância não é tão grande assim. Te devo um Sport da Kopenhagen. Enquanto isso, shoot straight.

Ao meu outro amigo L. Bloom, que pelo Correio das Selvas (melhor seria do Kalahari) lê o blog do Micalba quase todos os dias no apêndice (o coração é mais em cima) do Continente Negro Mas Limpinho ( a última metáfora infeliz é cortesia do Lulalá). Saudades de você, de vocês todos e do tempo em que eu também era Itamaragay - se arrependimento matasse... E continue comentando, mas lembre-se de que você tem handicap - noblesse oblige and all that jazz.

Ao Howard Gabe da Cambridge Society, que prometeu divulgar o blog ao povo de copo numa mão e lanterna na outra para iluminar o caminho de casa - Hinc lucem et pocula sacra. O Gabe mora pertinho daqui, em Vila dos Ingás, mas eu não o conheço pessoalmente - se bem que por telefone ele seja uma simpatia.

À Anna Veronica Mautner, que o Micalba descascou num log mas que demonstrou classe, graça, charme, savoir faire e senso de humor. Speak softly when you talk about a Lady. Do fundo dos tempos quando o Micalba fazia esgrima, Don'Anna deve ser terrível num florete - kudos, cheers et reveille com uma cereja por cima para ela.

E finalmente, last but not least, à tante Nina Horta, que sempre alegrou as manhãs das quintas-feiras do Micalba com os seus artigos e que agora publicou parte de um dos logs no maior jornal do Brasil, a Folha de São Paulo. A verdade é que o alter ego do Micalba conhece de ouvir falar a Nina de outros carnavais - ela é mineira de Belzonte como ele, mas também prefere não tripudiar sobre esse privilégio geográfico. Elogiar ou descascar restaurantes é uma história; escrever sobre a experiência multisensorial de comer é tarefa para outros, e ela dá mais do que conta do recado. E quando ela escreveu no "MAIS" sobre a Karen Blixen eu quase ovulei de felicidade.

No mais, o que vocês esperam? Que eu rasteje de felicidade? Já agradeci, vermes! E continuem votando no Micalba.

20.10.06

Horse Sense

Quando eu assistia os westerns do James Stewart eu tinha a impressão de que ele sempre usava o mesmo chapéu e montava o mesmo cavalo. Ontem tive certeza: vi uma antiga entrevista do Jimmy - o mais americano dos atores no tempo em que os americanos eram simpáticos - e ele contava que o chapéu era uma espécie de amuleto, e o cavalo era dele mesmo. Chamava-se Pie e foi escalado para Jimmy num dos seus primeiros westerns; o ator gostou tanto do cavalo que o comprou.
Pos bem: em "Alaska", Jimmy usava uma sela com um sininho, e alguém imaginou a seguinte cena: Jimmy manda o cavalo passar por uma rua deserta para atrair a atenção dos bandidos com o badalar do sino, enquanto ele dá a volta e os apanha. O problema era: como fazer com que o cavalo fizesse a cena? Stewart respondeu: "Não tem problema, eu explico para ele e vou encontrá-lo no fim da rua". Todo mundo riu mas Jimmy fez exatamente isso, e Pie desfilou lentamente pela rua sem o cavaleiro, com o sininho badalando. Um take.Um só.
Morra de inveja, Rodrigo Santoro.

Você pode ver a entrevista em http://www.wildwestweb.net/pie.html

O Tempora, O Mores

O deputado tarado americano Mark Foley saiu com uma defesa à la PT: disse que virou pedófilo porque foi molestado quando era coroinha por um padre. O padreco é o maltês Anthony Mercieca, que passou por Fortaleza nos anos 60 e admitiu que nadou e dormiu pelado com o coroinha por algumas vezes, quando ele tinha 29 anos e o menino 12. Mas pôs a culpa no Brasil: aqui as pessoas "nadam sem roupa o tempo inteiro e ninguém fica escandalizado" .
Da próxima vez que eu esquecer o calção em casa vou dar uma de Mercieca, só para ver o que acontece.
A propósito, o Micalba estudou com os jesuítas e nunca pegou o Padre Prefeito peleco na piscina - mas hoje me julgo uma exceção, pelo visto.

O Tempora, O Mores. Antigamente um padre era um papa-hóstias e os comunistas comiam criancinhas; hoje os padres comem as criancinhas e os comunistas estão se comendo uns aos outros.

Autofagia Política

Ana Cristina Luzardo de Castro, a Canibal do Leblon, deu entrevista hoje à Folha de São Paulo dizendo que não é tucana mas eleitora do Lula desde criancinha, e que mordeu o dedo da companheira porque ela a chamou de "Patricinha" - epíteto ofensivo a qualquer petelha de boa cepa.
E o Micalba que pensava que Autofagia Política era só força de expressão. Que nada, é quase uma epidemia petelha.
Aliás, como é mesmo o nome daquele filme de terror trash no qual um grupo de pessoas fica sitiado num shopping por canibais mutantes? "Despertar dos Mortos". Já imaginou a petelhada se comendo - literalmente - no dia das eleições?

19.10.06

Micalba tá na Folha

Uma parte do log de outro dia (Don'Anna: Xô da Minha Cozinha!) saiu hoje na coluna da Nina Horta, na "Ilustrada" da Folha de São Paulo.

18.10.06

Hannibal Lecter é o novo encarregado de marketing do PSDB


Parecia um episódio isolado: uma tucana arrancou o dedo de uma petelha com uma dentada no Rio de Janeiro. Mas graças às enormes e intumescidas células cinzentas da mais brilhante mente investigativa da Galáxia (Plutão incluído), o Comissário Micalba (foto), mais uma conspiração foi desmascarada: longe de ser a agente de um evento aleatório, a Canibal do Leblon apenas iniciou uma estratégia mercadológica destinada a garantir de uma vez por todas a eleição do Alckmin. O cérebro por trás de tudo é o conhecido gourmet, personalidade internacional, gênio da psiquiatria e psicopata assassino Hannibal Lecter, recentemente cedido pelo FBI ao PSDB para coordenar a campanha tucana.
O Comissário Micalba revela segredos da investigação:
"Achei superlativamente suspeito o fato, e enquanto colocava minha equipe na rua em busca de dados mais concretos, formulei algumas teorias que infelizmente se revelaram excessivamente simplistas:
1) A Petelha na verdade se automutilou num processo de identificação com o seu Líder Supremo, e depois pôs a culpa em outra pessoa - comportamento normal num petista.
2) A Tucana arrancou o dedo da Petelha na esperança de que quando se essa se parecesse mais com seu Líder Supremo, ela finalmente compreendesse o significado das metáforas abiloladas dele e tivesse um insight - e então abandonasse tudo em favor da capricultura ou outra atividade mais relevante.
3) A Tucana arrancou o dedo da Petelha num ato de legítima defesa antecipada - era menos uma extremidade pontuda que pudesse ser introduzida num orifício particularmente sensível da Classe Média no caso de um segundo mandado do Líder Supremo.
Enquanto isso meus agentes de campo voltavam com informações esparsas sobre um misterioso personagem norte-americano, o que inicialmente me confundiu - Hannibal Lecter é na verdade lituano. Mas a informação partiu do Detetive Manoel, e ao contrário da PF eu acredito que as mulheres são mais capazes - e coloquei as minhas Cachopas na pista. Logo a Agente Ernestina voltou com a informação completa, mesmo tendo arriscado a sua integridade física (o Lecter tentou devorar o lindo nariz de batatinha da Ernestina como aperitivo): o PSDB tinha contratado o Hannibal Lecter como marqueteiro no final da campanha. Com a sua costumeira educação o charmoso psicopata (foto) concordou em encontrar-se comigo, mas como não sou nenhum néscio escolhi um lugar seguro: um excelente restaurante, já que de estômago satisfeito o gajo é bem mais tranquilo. Sendo eu fiel às minhas origens, foi no Antiquariu's - entre o Porto extra-dry do aperitivo e o tawny da sobremesa, passando pela santola da entrada e os rojões à Alentejana regados a um Pêra Manca do prato principal que Lecter revelou seus segredos, e depois de devidamente vertido para o Português nosso diálogo ficou assim:
- O que o trouxe até aqui?
- Um convite ao mesmo tempo cordial e desesperado: com o Lula com 60% contra 40% do Alckmin, a única solução eficiente deve ser ao mesmo tempo radical e inovadora. Um mero Duda não basta, nem dois são suficientes. Foi assim que Mr. FHC lembrou-se do meu nome.
- FHC?
- Um cavalheiro encantador: fala três ou quatro idiomas fluentemente, ligeiramente marinado em bons vinhos franceses. Adoraria jantar com ele.
- E qual foi a sua idéia salvadora?
- Simplícissima, e nisto reside o seu charme. Se os 40% dos eleitores do Alckmin comerem um Petelho cada um antes das eleições, os 20% restantes corresponderão depois de refeita a percentagem a 33% do eleitorado - e a vitória de Alckmin estará garantida. Além do mais, outros problemas do país estarão resolvidos de quebra: Previdência Social, INSS, Seguro Desemprego, segurança, moradia e, principalmente, alimentação. Se cada Tucano doar as porções menos atraentes do seu Petelho a outro Petelho carente, ninguém mais passará fome.
- Não seria mais fácil você comer só o Lula e acabar com isso de uma vez por todas?
Lecter fez cara de desgosto:
- Carne flambada é bom, um civet tem o seu lugar, um coq au vin também. Mas afogada em uísque e cachaça é intragável. Não, obrigado.
- Você não acha a sua proposta um tanto... extrema? Talvez pouco ética?
- De forma alguma. Os Petelhos não vivem falando em Fome Zero? É a hora deles darem a contribuição final: você escolhe um Petelho qualquer, de preferência uma fêmea suculenta, e diz baixinho na orelha dele: que tal uma inserção social radical? Depois é só limpar bem a carcaça. Além disso, estarei contribuindo com as melhores tradições da culinária brasileira.
- Como?
- A maioria dos eleitores do Lula está no Norte e Nordeste. Mesmo em Minas Gerais o grosso está do Triângulo Mineiro para cima. E pelo que sei do seu país adotivo as especialidades do Norte e Nordeste são coisas fortes, apimentadas e gosmentas, próprias para um estômago abrutalhado: Tucupi ao Tacacá, Sarapatel de Xinxim, Buchada de Bode, coisas assim. Por outro lado, Paul Bocuse considerou a cozinha do Sul de Minas a melhor do Brasil, os gaúchos são meio bárbaros mas sabem o ponto exato da carne e fazem alguns bons vinhos, os catarinenses sabem defumar bem um kassler e fazer umas salsichas bem decentes. E os paranaenses podem fazer Barreado dos ossos duros de roer.
- E você acha que vai funcionar?
Lecter pareceu hesitar:
- Agora não sei. Mesmo com meu workshop e as minhas instruções o máximo que a garota conseguiu foi comer a ponta do dedo da outra. Mesmo seguindo os meus mandamentos à risca.
- Sabe qual foi o problema, Dr. Lecter?
- Pode me chamar de Hannibal.
- OK, Hannibal. Sabe qual foi?
- ...?
- Seu tempo de Brasil é menor do que o meu, e certas coisas passaram desapercebidas. Seu plano todo se baseia na noção de ética dos petistas, certo? Pelos seus planos é a ética deles que faz com que quem acredita no Fome Zero aceite ser imolado sem resistir?
- Sim. E daí?
- E daí que Petelho desconhece completamente o conceito de Ética. Menos a Madrileña Chutaí, que finge um pouquinho.
- Oh, shit.
Caso resolvido. Mas tive pena do gajo".

16.10.06

Micalba A. C.

"Agonia e Glória" (The Big Red One) é um filme de guerra dez vezes melhor do que "O Resgate do Soldado Ryan", e apesar de não mostrar as cenas chocantes de cirurgia gástrica do segundo é de um realismo bem mais tocante. Isso principalmente porque foi feito por quem viu a Segunda Guerra de perto e não apenas a imaginou: Samuel Fuller serviu com a Big Red One de verdade e trouxe de volta da Europa uma Estrela de Bronze, uma Estrela de Prata e um Coração Púrpura, e Lee Marvin era um veterano da guerra no Pacífico que foi enterrado em Arlington. Enquanto isso, Spielberg só viu sangue no Departamento de Efeitos Especiais, e Tom Hanks só lutou na Batalha Pelo Oscar. De qualquer jeito, o Micalba troca um Fuller por um Spielberg a qualquer hora – e ainda dá dois Robert Rodriguez e um Jim Jarmusch de troco.

O filme é narrado por Zack, uma espécie de alter ego de Fuller, que dá o seguinte recado: o importante é sobreviver, e mais nada.

Sábias palavras, principalmente quando se considera que alguns talentos só são considerados como tais pela longevidade do portador – e mais nada. Por esse processo, certas mediocridades acabam virando gênios pelo simples fato de que são tão chatas que nem o Ceifador quer chegar perto delas a não ser em caso de extrema necessidade, e no fim o cara ultrapassa os noventa fácil, fácil – e vira celebridade.

Um caso nacional conhecido é o Ariano Suassuna: agora virou moda bater três vezes na tumba dele na falta de algum talento mais jovem. Ora, antes do Suassuna concorrer com o Celacanto na categoria dos fósseis vivos ele não passava de um representante medíocre e tardio de uma escola literária tardia e medíocre. O regionalismo nordestino é por excelência um estilo seco, a literatura do pobre orgulhoso: o enredo é pobre, os personagens são pobres, o cenário é paupérrimo, a inspiração morreu de sede. O fato do Sarney ser um dos últimos representantes vivos da escola deveria dizer alguma coisa, mas tem gente que não entendeu o recado.

Hoje eu gosto do João Ubaldo Ribeiro, mas quando ele ainda era regionalista ele produziu um dos menores maiores cartapácios da literatura nacional: Sargento Getúlio. Era o livro fininho mais grosso que já existiu, matéria para o Guinness. Verter Hamlet para o sertão de Alagoas é uma tarefa para a Viúva do Soldado Desconhecido da Geração Perdida e para mais ninguém, e Amartia em Cabrobó é de lascar. O João Ubaldo (que hoje é um baiano porreta e universal, axé and all that jazz para ele) teria conseguido o prêmio Chico Chato na categoria se não fosse o Suassuna com sua Pedra do Reino, que é hors concours. Agora saiu no jornal que o Ariano finalmente deu um fim na mixórdia, mas quem quiser saber como acaba tem que comprar o tijolão todo outra vez. O Micalba ainda tem uma primeira edição, adquirida quando ele ainda era esquerdinha e nacionalista e adolescente, mas hoje ele é consciente de seus direitos como consumidor: se o Ariano não me mandar um encarte gratuito com o final (máximo de quinze páginas, por favor), PROCON nele.

Por outro lado, existem aqueles que realmente desabrocham tardiamente. Os casos são raros, mas ocorrem: vejamos o nosso amigo John Le Carré, David Cornwell para os íntimos. Quinze anos atrás ele estava no mesmo ranking do Forsyth, de subliteratura com alguns rasgos de brilhantismo, mas que se lê escondido. Hoje o Le Carré é quase um Graham Greene reencarnado, semelhança que ficou evidente com “O Alfaiate do Panamá”, quase um pastiche do “Nosso Homem em Havana”. Daí por diante Le Carré fica melhor e melhor a cada livro, e o Micalba queimou o midnight oil no fim de semana (com dois filhos e um filhote de Jack Russel e a Sra. Micalba falando enquanto dorme só me restou a madrugada) lendo “The Mission Song”, e adorou. Como diz o Sheik, que o Cornwell viva cem anos escrevendo cada vez melhor, e o Micalba tenha um desconto na Amazon maior do que alguém consegue comprando duas bombas atômicas de uma vez só de um mercador de P'yŏngyang.

No mais, a gente se pergunta: por que o bonde não atropelou o Niemeyer quando ainda existiam bondes no Rio, e deixou o Gaudí em paz por mais alguns anos?

13.10.06

Sem tesão não há solução

Chopada de aniversário do Thomas: 90% da mesa com o chamado 4o. Grau completo (mestrado ou doutorado), dois alegres rapazes de Oxbridge, outros das boas universidades do ramo daqui. Todos eleitores do Alckmin, mas todos envergonhadíssimos depois da chafurdança com os Garotinhos corruptos e criacionistas. Todo o mundo vai votar nele mas caladinho, e fizemos um pacto de sangue e cerveja de não tentar convencer ninguém para não ter que ouvir umas verdades.

Enquanto a imprensa fica discutindo quem ganhou o debate, o Alckmin despenca nas pesquisas. Mas como, se ele se saiu melhor? Diz o Comissário Micalba: São os Garotinhos, estúpido!

Se o Lula deu um tiro no pé antes do Segundo Turno, o Geraldo deu um tiro no saco logo depois. E sem saco não há tesão, e como dizia o Roberto Freire, aquela versão um pouquinho mais sofisticada do Paulo Coelho, sem tesão não há solução.

O que inspirou no Micalba uma parábola:

Era uma vez uma moçoila com todas as qualidades no lugar que se interessou por um moçoilo que parecia um poço de virtudes: malhadão, bombadão, saradão, médico formado, congregado mariano. Vai daí que um dia ela passa na rua e vê o tal saindo do Rala Gay com duas drags. No dia seguinte o mancebo sobe no púlpito para falar que é um varão do Senhor, e como a moçoila é muito ingênua ainda fica pensando "será que ele é"? Mas a princesa já começa a lançar de novo olhares para o Tião Furdunça, seu ex-namorado. O Furdunça é vagabundo, bebum e feioso, mas é mais ou menos sincero, porque mente tão mal que não convence nem ele mesmo. E de vez em quando ela se pega pensando em voltar e tentar regenerar o bruto. Por outro lado, o outro é tão bonitinho... Oh, dúvida cruel!

11.10.06

Alça de Caixão

É pior do que se esperava: o Clodovil negou veementemente que pudesse mudar o seu voto por dinheiro, mas disse com todas as letras que quer “instaurar a política do amor e do afeto” e que “é como cachorro, é só passar a mão que abano o rabo”.
É, parece com aquela música brega de antigamente: ele diz “sim” por uma pedra falsa, um sonho de valsa ou um corte de cetim. Nem precisa de dinheiro.
Já imagino daqui a alguns anos, quando o Grande Líder for passar a idade mínima da aposentadoria para 90 anos. Como parece que a reeleição está no papo, a gangue toda vai estar de volta, e entre um gole e outro o presidente vai ditando a estratégia:
- Dirceu, você cala a boca da imprensa com o seu passado remoto; Berzoini, você dá 50 paus pro PFL, 40 pro PMDB e 30 pro PT; Fróide, você vai lá e afaga o Clodovil.
- Pô, chefe, eu de novo? Por que é que eu sempre fico com o trabalho sujo?

E não acaba por aí. O Clô foi visitar o Aldo Rebelo e foi recepcionado por ele “com lágrimas nos olhos”. E arremata: “Olhei para o Aldo como olhei para o médico que me operou de câncer”(de próstata).

Como problemas de próstata normalmente envolvem um bocado de toques naquele lugar, no caso do Aldo ou eu tomava as devidas cautelas ou assumia de vez, sem medo de ser feliz.

10.10.06

Outra modesta proposta

Deu na imprensa internacional, mas mereceu só uma notinha de pé de página aqui: o milionário inglês de origem sueco-judaica (ou salada russa) Johan Eliasch (foto) está querendo “privatizar” a Amazônia para protegê-la. Eliasch é tesoureiro do Partido Conservador mas a idéia partiu de um esquerditcha, o Deputado do Labour Party e ex-ministro Frank Field. Seguindo a idéia de Field, Eliasch já comprou 100.000 hectares no Amazonas por 8 milhões de libras (uns 14 milhões de dólares) e quer comprar mais, deixando a floresta intacta e convidando cientistas do mundo inteiro para pesquisar no seu novo sitiozinho.
A imprensa errou só no autor da idéia: o humorista americano P. J. O’Rourke já tinha sugerido bem antes que se os ecochatos gostam tanto de matinha a melhor idéia era comprar uma só para eles e deixar de atormentar a paciência dos outros.

Mas a proposta modesta do Micalba é outra: ao invés de comprar a Amazônia, porque o Johan Eliasch não compra o Sul? Pelo menos para nós sulistas eu só vejo vantagens:

- O problema com o regime republicano é que o presidente não é o dono, mas um mero locatário. E todo o mundo sabe que locatário não conserta nada: deixa tudo ao Deus dará, tapa os vazamentos com chiclete, desentope o cano com soda cáustica e deixa vazar nas mãos do outro, emenda a fiação com fita adesiva, cola o azulejo solto com Pritt. Já dono é totalmente diferente, principalmente se quer deixar a propriedade para os netos – mas disso falamos depois.

- O Johan Eliasch parece um cara decente: é dono da Head, aquela empresa que no meu tempo fabricava só raquetes e tacos de golfe e hoje faz o escambau em matéria de produtos esportivos, e executivo de cinema. É também um sujeito bem-apessoado, melhor do que qualquer baixinho barbudo de olhos esbugalhados, e também não tem cara de ex-seminarista que pulou o muro do Colégio. E já vem multiétnico: para quem já é judeu, inglês e sueco não custa nada ser também gaúcho, catarina e paranaense.

- As vantagens de ter um executivo de empresa de material esportivo como dono do país são imensas: a população vai viver super saudável, correndo e jogando tênis e golfe e subindo em parede e etc. Seremos um óbvio destaque nas Olimpíadas, nossa longevidade irá aos píncaros e não vamos ter de nos preocupar muito com gastos militares: se o pessoal do Norte ou os argentinos se engraçarem conosco a gente pega as raquetes e os tacos de golfe e cai de pau neles.

- Executivo de cinema também é bem-vindo: enquanto o Norte fica com a ANCINE, nós vamos ter pelo menos um cineasta de verdade, e quem sabe sai daí um cinema nacional que preste.

Proponho que a coisa funcione mais ou menos assim: o Eliasch compra o Sul e constrói uma cerca na altura de Ourinhos. No princípio ele pode até contratar o Alckmin como gerente, já que todo mundo por aqui votou nele, mas se o cara fizer cagada nós esperamos um comportamento típico de executivo responsável: por o incompetente no olho da rua e vir administrar ele mesmo. E se ele administrar o país como se fosse a empresa dele, nossa felicidade pode estar garantida – a não ser que ele prefira liquidar o ativo e vender como sucata, mas eu confio em nós.

Por outro lado o Eliasch parece preferir a Amazônia, e cabe a nós fazer com que ele mude de idéia:

- O site da Head não informa quase nada sobre a biografia pessoal do Eliasch, mas dá um espaço enorme para os títulos esportivos dele: o homem é um golfista, esquiador e tenista fanático. No Amazonas não dá para fazer nada disso porque as árvores não deixam espaço para uma mesa de pingue-pongue, quanto mais para uma quadra de tênis ou um campo de 18 buracos. Neve então nem pensar. Por outro lado nós já temos quadras e campos de golfe prontinhos por aqui, espaço para construir outros e até um lugar ou outro para ele esquiar, se ele se contentar com uma temporada bem curtinha – no dia que nevar em Gramado ou em São Joaquim é só ele pegar o helicóptero e dar um pulo rápido lá.

- A jogada publicitária dele parece não estar dando certo: mesmo gastando 8 milhões de libras comprando terras num deserto verde onde só tem eleitor do Lula e boto ao tucupi (ou algo parecido) o cara só conseguiu um quarto de página na Wikipedia. Se você disser “milionário inglês” ninguém vai entender “Johan Eliasch”, mas sim “Richard Branson”. Por que? Porque o Branson não comprou a Amazônia, comprou a Patagônia. Menos um pedacinho que venderam para o Sylvester Stallone (será que ele quer filmar “Rambo Senil contra as Ovelhas Assassinas”?). Ou seja: Sul é “In”, Amazônia é “Out”. Se quiser conferir, veja o espaço do Branson e do Stallone na Wikipedia.

- Se o Eliasch resolver vir para cá e resolver deixar a terra para os netos dele, nós pensamos seriamente em ressuscitar a monarquia e arrumar um título bacana para ele além do de rei ou imperador, tipo “Leão do Cacequi” ou “Leão-Marinho de Paranaguá”. Se o cara é tesoureiro do Partido Conservador deve ser porque está de olho num título.

- Se o negócio dele é mesmo mato, nós ainda temos por aqui uns pedacinhos de Mata Atlântica, que por sinal tem uma baita biodiversidade mas está num estado muito mais lamentável do que a Amazônica. E ele leva de quebra umas campinas, uns pampas e uns pouquinhos pinheirais mixos que restaram, que também precisam urgente de cuidados.

Se ele aceitar a proposta e trabalhar direitinho, aposto que São Paulo, o Sul de Minas e o Mato Grosso do Sul vão acabar morrendo de inveja e querer aderir. Ficava um Império supimpa.

Bom, e o que é que eu levo nisso? Nada, só interesse patriótico. Mas se o Eliasch quiser me sagrar Visconde Micalba de Jutucurundu eu aceito.

Pergunta aos leitores: de onde o Micalba tirou inspiração para o título? Os que responderem a pergunta serão publicamente proclamados pessoas de bom-gosto, cultura, graça, classe, charme e savoir-faire.

8.10.06

Não liga não, querido: é só o personal

Saiu na "Veja" dessa semana que um bando de gente com dinheiro novo em folha mas totalmente desprovida de gosto paga uma baba a um personal something para ensinar os tais emergentes a fazer tudo: arrumar a cama, beber vinho, fumar charuto.
O Micalba tem um especial desprezo pelos personal something, e promete que quando proclamar a sua monarquia anarco-capitalista vai chamar um personal mass murderer (preferencialmente ex Khmer Vermelho) para organizar o paredão e um personal mass grave digger (um maoísta ou stalinista velhinho serve, talvez um sérvio desempregado) para se livrar dos corpos, dando um jeito nessa cambada de uma vez por todas.
Meu desprezo cresce proporcionalmente quando vejo um ou uma infeliz vestida por um dos tais consultores de moda, e atingiu os píncaros quando tive que escutar um Personal Wine Bullshitter (ele preferia se identificar como enólogo, mas isso é bem outra coisa) aqui em Jutucurundu.
A coisa foi assim: um restaurante daqui resolveu organizar uma degustação de novos vinhos argentinos da Maison Chandon, e fez um jantar com os ditos vinhos e bife de chorizo argentino para acompanhar. Ótima perspectiva, e lá se foram os Micalbas e os Thomases para aproveitar. O ambiente estava legal e os aperitivos gostosinhos, e nos preparamos para uma noitada de wine, women (mesmo que fossem só as nossas) and steak.
Foi aí que o cara que tocava a musiquinha de fundo saiu do tamborete e o Personal subiu, e o inferno começou. O cara falava mais do que uma cruza de vendedor de carros usados com corretora de imóveis, e falava, falava sem parar, e depois falava mais ainda. Um verdadeiro Personal Chatterbox. E não só falava como pontificava: gire a taça assim, e sinta o aroma: frutas vermelhas, e tanino , e... tanto falou que o bife de chorizo chegou arruinado: era mesmo argentino e estava maciíssimo, mas o povo da cozinha teve que esperar tanto para o cara deitar a fala dele que a carne passou do ponto e parecia uma coisa expelida da boca de um vulcão bem ativo. Mas o pessoal que acabara de trocar a carroça por um BMW novo em folha parecia escutar extasiado, e olhou torto quando o Micalba rompeu o silêncio e começou a conversar com o Thomas.
Mas eu só estava me lembrando de uma velha piada, tirada de um filme dos anos 60: uma inglesa aristocrática vira para o namorado alpinista social que está metendo o nariz numa taça de vinho (que no filme era um francês despretensioso mas bem melhor do que a zurrapa do Personal) e diz:
- Pare com isso, Harry! É tão classe média! Papai só faz isso de Côtes de Nuits para cima!
Qualquer dia o sujeito chega em casa, pega a mulher com outro e ouve a seguinte desculpa:
- Não é nada do que você está pensando, querido! É que para te agradar melhor eu contratei um personal fucker!

5.10.06

Don’Anna: Lugar de mulher é no consultório ou no escritório. Saia da minha cozinha!

Hoje saiu uma peça inesquecível de Fashionable Nonsense na Folha Equilíbrio, com o título “Homem na Cozinha”. A autora é Anna Veronica Mautner, que se identificou como “psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e autora de “Cotidiano nas Entrelinhas”, e criticou o que ela pensa ser uma moda recente, a dos homens na cozinha.

Se eu tivesse a mínima intenção de comprar o livro da Don’Anna, ela se foi: se ela não sabe ler nem nas linhas, quanto mais nas entrelinhas.

Está certo que ela pelo menos admitiu que os cozinheiros profissionais são normalmente homens, mas no resto o artigo é uma Sotise à la mode.

Os homens teriam se esgueirado sorrateiramente na cozinha - este reino feminino por excelência da Don’Anna – através da porta do churrasco, isso segundo ela em épocas recentes.

Bom, pelo menos aí tem uma meia verdade, ou melhor, um centésimo de uma: os homens começaram a cozinhar pelo churrasco – mas isso aconteceu a algumas centenas de milhares de anos atrás, quando nós homens inventamos a cozinha. Depois as mulheres nos expulsaram dela em tempo parcial e só por algumas centenas de anos, mas isso é outra história.

Continuando com a lorota do churrasco, ela continua: “Lembremos que a função feminina não desaparece: salada, arroz e farofa continuam responsabilidade das mulheres. São também elas que põem a mesa e arrumam os pratos”.

Don’Anna: se a Senhora for comer o melhor churrasco do Brasil – que mesmo como mineiro eu tenho que admitir ser o gaúcho – o principal acompanhamento deve ser Arroz de Carreteiro. Se for em Minas, é provável que apareça um Feijão Tropeiro. Note bem: nem o arroz é de carreteira nem o feijão é de tropeira. São (deliciosas) invenções masculinas, como aliás a paella, que segundo uma versão bem aceita era feita pelos homens para as mulheres – para ellas. Continuando, no Marrocos só os homens preparam os aperitivos, cabendo às mulheres o prato principal. Como os aperitivos marroquinos são uma delícia e os pratos principais normalmente não passam de ensopadões, ponto para nós. Fora o Bacalhau à Gomes de Sá, ao Zé do Pipo ou ao Zé do Telhado. Eu podia dar mais exemplos, mas ia faltar espaço. Muuuito espaço.

Tá bom, são as mulheres que fazem a salada e põem a mesa e arrumam os pratos, mas isso por uma razão simples: qual o homem de verdade que precisa de salada, mesa e pratos? Deve ser por isso que ela lascou “Lembremos que, já que o churrasco é feito em público, eles” (os homens) “podem se exibir à vontade”. Freud explica: não é a inveja do pênis, mas a inveja da faca. Ela deve ficar babando com o que nós machos conseguimos fazer com uma simples faca, enquanto lá vem a Anna equilibrando a mesa e os guardanapos e os pratos e os talheres na cacunda – com a saladeira de quebra no alto do cocuruto.

E a verborréia da Don’Anna continua, com os comentários do Micalba ao lado:

- “Só que é ela” (a mulher) “quem limpa e descasca”. – Atualmente, só deixaria uma mulher fazer isso se eu gostasse de batatas sangrentas, e cenouras idem.

- “A diferença, parece-me, reside no fato de que eles não têm tradição familiar de culinária e elas têm. Na falta de tradição, eles buscam livros e Internet, mas não falam com a avó, mesmo que ela tenha cozinhado a vida inteira em fogão de lenha”. E arremata: “É raro homem querer aprender com mulher. Prefere inventar a roda”- O Micalba tem ótimas recordações de suas ex-namoradas, mas numa estatística boazinha e otimista pode afirmar que 60% delas não sabia fritar um ovo, 85% não sabia passar um café e 95% não conseguia cozinhar nada. Quase todas eram profissionais urbanas, e o que eu poderia aprender com a maioria eram os telefones de disque-comida que estavam nos ímãs de geladeira. Aprendi a cozinhar por necessidade (era ou isso ou comer porcaria) e minhas primeiras professoras foram mulheres – como também foram as que ensinaram amigos meus. E sou herdeiro das tradições culinárias da minha família, e herdeiro exclusivo de algumas delas, pelo menos as mais complicadas – devidamente assim nomeado pela minha irmã. Já com relação aos livros, como os Micalba - mulheres e homens - são alfabetizados há algumas gerações, todos na família os usavam - e foram divididos irmãmente, literalmente.
Quanto a inventar a roda, me parece uma característica exclusivamente feminina: se tem uma crítica que pode ser feita aos homens na cozinha (e aos cozinheiros amadores em geral) é a falta de imaginação, porque os novatos e os homens preferem seguir a receita milimetricamente, sem fazer qualquer concessão. Ao contrário de certas mulheres, que tem uma imaginação tão fértil que dá para plantar abobrinhas, mas que quando a receita desanda depois de tantos cortes e substituições fica se perguntando: o que deu errado? Isso sem contar que a dona-de-casa padrão de hoje – exclusiva ou em tempo parcial – é uma excelente consumidora de congelados, molhos prontos, pratos de preparo rápido e outras nojeiras. Se reinventar a roda é cozinhar realmente como antigamente, vamos fazer a dita mais redondinha, rapazes!

Agora que o meu sangue está esfriando, vamos a uma explicação bem mais prosaica e talvez mais verdadeira: o homem entrou na cozinha porque a mulher saiu dela. E cozinhar exige vocação e dedicação – de homens e mulheres indiscriminadamente. Se eu não gostasse de cozinhar jamais entraria na cozinha depois de um dia de trabalho – mas como para mim é uma higiene mental, ótimo. E para algumas mulheres que são profissionais urbanas é a mesma coisa. Assim, a cozinha hoje ficou para os aficcionados, de qualquer sexo - ou seja, de quem gosta de comer bem. Quanto à tal da tradição, vai ficar morta e enterrada se algum cozinheiro(a) da família não quiser mantê-la, porque o que mudou foi a estrutura familiar, que passou a ser nuclear. Além do mais, a grande herdeira de tradições no Brasil nunca foi muito a Dona de Casa, mas sim a cozinheira – e esta se aposentou ou morreu.

Quanto aos aparelhos e aparatos, são típicos do novato ou novata – indiscriminadamente. Mas devo reconhecer que homem gosta mais de invenções tecnológicas, e do tal “um lugar para cada coisa e uma coisa para cada lugar”. Por outro lado, quando a cozinha deixa de ser uma ciência – quando se usa o método alemão, “Dê-me um manual de instruções e eu dominarei o mundo” – e passa a ser uma arte, pelo supremo método francês “Au Pif” a gente aposenta os gadgets e usa a velha faca. Que é invariavelmente bem afiada se o cozinheiro é homem, e cega e cheia de dentes quando a cozinheira está no comando.

No mais, Don’Anna, ninguém tem culpa se o Seu Mautner cozinha mal. Troque os óculos para ler melhor nas entrelinhas e escreva sobre id, ego e superego daqui por diante, que é a sua praia. Deixe a cozinha para os profissionais ou os amadores dedicados: a Nina Horta (que reconhece e aplaude os esforços do macho cozinheiro) ou o Josimar Melo. Lugar de mulher é no consultório ou no escritório.

4.10.06

Entre a Cruz e a Espada ou: Frases que eu gostaria de ter dito

Outro dia vi na Folha de São Paulo uma frase de um sujeito cujo nome infelizmente esqueci (a Sra. Micalba tem o péssimo hábito de se livrar dos jornais no dia seguinte), mas que advogava o voto nulo dizendo mais ou menos assim: "É como nas brincadeiras de criança: O que você prefere, morrer queimado ou ser comido por formigas?".

Na hora eu desprezei a opinião do sujeito como infantil, mas depois de ver o Alckmin grudado nos Garotinhos - o cara que disseram ser da Opus Dei e os crentes que ensinam Criacionismo nas escolas - me vêm sérias dúvidas.

Entre o PeTelhismo e o Fanatismo (sem contar o Corruptismo), só resta pedir asilo. O consolo é que se eu explicar direitinho nenhum país civilizado vai negar.

Por outro lado, o Micalba está feliz...

porque os seus leitores demonstraram em tempo recorde as qualidades fundamentais de um habituée da Quinta do Micalba: inteligência, raciocínio rápido, erudição, charme, graça, classe e savoir faire.

Micalba, o vidente

O concurso foi vencido em tempo recorde por nosso amigo anônimo, que por motivos óbvios preferiu continuar anônimo. Mas o Comissário Micalba só levou dois segundos para descobrir a identidade dele, e o Micalba promete entregar o prêmio da próxima vez que for de Jutucurundu para Vila dos Ingás, ou quando o anônimo vier a Jutucurundu e deixar o anonimato de lado um pouco.

Por outro lado, estou descobrindo meu lado profeta: na (boa) tradução do anônimo, a frase de Ovídio citada ontem pode ser vertida como "vejo as coisas virtuosas e as admiro, porém sigo as podres".

Daí eu abro o jornal hoje e vejo o Alckmin agarrado aos Garotinhos. Se segura, Jucelino, porque o Micalba está chegando.

3.10.06

Alguém está lendo esta merda?

Como o bloggger está tomado de dúvidas existeciais, resolveu fazer um concurso: o primeiro a traduzir e situar historicamente a frase "Video meliora, proboque; Deteriora sequor" ganha um pacote de chocolates Sport da Kopenhagen, que são deliciosos.
Regras do jogo:
1) Só ganha o primeirão;
2) O Alan Thomas não vale;
3) O Nick Thomas tem handicap 8: quatro horas de desvantagem sobre os demais;
4) A Turma de Windhoek tem handicap 2: vinte minutos de desvantagem sobre os demais.
Fora isso, o Micalba se compromete a enviar os chocolates para qualquer lugar conhecido no Universo, desde que o competidor:
a) Envie a mensagem pelos "Comments";
b) Identifique o autor, a obra e a época quando foi escrita;
c) Faça uma tradução aproximada.
A sorte está lançada, ou como dizia o outro, "Alea jacta est".

Atirando no próprio pé

O Lula saiu com essa: "Eu quero saber quem arquitetou essa obra de engenharia para atirar no próprio pé".

Na verdade, atirar no próprio pé é mais comum do que se pensa: o Micalba já leu em algum lugar que durante a Segunda Guerra Mundial os ferimentos auto-inflingidos por armas curtas (revólveres e pistolas) foram em número superior aos inflingidos ao inimigo. É por isso que alguns americanos dizem que a única utilidade de uma arma curta é permitir que o dono chegue até onde as armas longas estão guardadas.

Por outro lado, é mesmo difícil atirar no próprio pé. Pelo menos quando se está sóbrio.

2.10.06

Polícia Federal desbarata quadrilha internacional de traficantes de Iapomiras


(Fonte: Agência MIPS/MICALBAPRESS - Micalba International Press Service) - A Polícia Federal desbaratou hoje uma quadrilha internacional de traficantes de Iapomiras. Seguindo as informações do Comissário Micalba da PSP, os agentes federais conseguiram interceptar um carregamento de Iapomiras e similares (foto) que se destinava ao continente africano, solucionando assim o mistério das Iapomiras desaparecidas. As informações iniciais davam conta de que foram apreendidas duas Fredegundas, uma Furustreca, uma Hermengarda, duas Umbelinas, uma Semíramis, uma Sinefrina, duas Iapomiras e uma Katilce, inicialmente identificada como a mesma que teve seus trinta segundos de fama ao beijar o cantor irlandês Bono Vox. Entretanto, exames periciais de DNA revelaram que não se tratam de produtos autênticos, já que todas as Iapomiras apreendidas são na verdade paraguaias chamadas Rosario. A operação foi chefiada pelo Delegado Taborda do Departamento Federal de Repressão ao Tráfico Internacional de Mocréias e Tribufus com Nomes Esquisitos, que declarou à MICALBAPRESS:
"Foi mais uma operação bem sucedida da PF, que desvendou o caso praticamente sozinha - ressalvado o auxílio voluntário da mais aguçada mente policial de todos os tempos e do Terceiro Milênio também, o Comissário Micalba da Polícia Secreta Portuguesa. As investigações preliminares dão conta de que a demanda africana por mocréias e tribufus com nomes esquisitos nasceu da disputa entre o Rei Zabumba VIII do Reino Independente do Fuzuê (antiga colônia francesa) e do Presidente Mwamba (que retém o título tribal de Mwamba IV) da República Social-Anarquista-Petista-Psolista-Comunista de Quizumba, uma ex possessão portuguesa. Os dois se orgulham de gastar praticamente todo o PIB de seus países na busca de mocréias com nomes estranhos, e as imensas quantias de dinheiro em jogo atraem a escória dos escroques internacionais, que não poupam esforços em fornecer os produtos procurados ou mesmo falsificações grosseiras, como neste caso". Sobre os tribufus apreendidos, o Delegado disse: "Uma Katilce costuma atingir um bom preço, sobretudo pelo valor histórico. Mas uma Iapomira é definitivamente a peça rara da coleção, e seu preço não tem limites".
Participaram da operação 376 policiais federais, e mais 1.200 soldados do exército requisitados ao Ministério da Defesa. O Ministro Márcio Cara de Tacho negou qualquer motivação política:
"O povo não está nem aí para saber de onde veio o dinheiro do dossiê. O importante é saber para onde iam as Iapomiras desaparecidas".
O Tráfico Internacional de Mocréias e Tribufus com Nomes Esquisitos é proibido internacionalmente pela Convenção de Wagga-Wagga, e equiparado pela legislação brasileira aos crimes hediondos, maus, cruéis e pérfidos. A legislação brasileira prevê penas que variam da prisão perpétua à amputação de membros sensíveis e delicados.
Os dois responsáveis que foram presos pelo tráfico foram postos em liberdade provisória pelo STJ, e seus nomes não podem ser divulgados porque sua identidade está protegida por um habeas corpus do STF. O STF também adiantou que a liberdade condicional será concedida depois que os dois cumprirem um milésimo da pena, ou seja, quatro horas.

O log de hoje...

... vai para a turma da Embaixada do Brasil em Windhoek. Saudades.

Quem quer comprar uma Iapomira?

Saiu na coluna da Monica Bergamo ontem: Iapomira de Souza (foto), de Feira de Santana (BA), escolhida para falar no programa eleitoral do PT na Bahia, iria falar a Lula "sobre uma amiga (...) que foi vendida para a África por US$ 10 mil". O Grande Líder não ouviu a Iapomira.
Provavelmente o medo da Iapomira é ter a mesma sorte da sua amiga, mas o Micalba duvida que isso aconteça. Mesmo a tal história da amiga não parece ser da África, mas das Arábias. Para o Micalba o tráfico de órgãos e o de escravas brancas (ou de outras cores) parece estar na fronteira entre o assunto sério e a lenda urbana. Ninguém ainda noticiou um caso sério de tráfico de órgãos, e a maioria das meninas brasileiras nos puticlubs espanhóis e nas boates portuguesas não só foi de livre e espontânea vontade como sabia muito bem no que estava se metendo.
O jeito foi chamar o Comissário Micalba, que assim se pronunciou sobre o Tráfico Internacional de Iapomiras:
Ao contrário do que pensa a maioria dos eleitores do Lula - e também aparentemente pensava o presidente, pelas mancadas que ele deu por lá - a África não é um país, mas um continente com um monte de países dentro. E africanos comprando baianas por US$ 10 mil é no mínimo suspeito. Diria mais: muito suspeito. Mais ainda: superlativamente suspeito.
10 mil verdinhas é um bocado de dinheiro em qualquer lugar, e na África mais ainda. Porque um africano gastaria 10 mil numa Iapomira?
Motivos lúbricos e libidinosos estão certamente descartados: é só olhar bem para a Iapomira. Meu amigo Micalba é fã da Mama África e já andou por lá algumas vezes, e me contou que as mulheres de alguns grupos étnicos africanos (as Masai, as Watusi) estão entre as mais lindas do mundo. Aliás, na África tem mulher bonita de sobra, de qualquer cor ou etnia: loirinhas sul-africanas, indianas, mulatas com sangue português, francês, belga, sem contar as nativas. A Charlize Theron é sul-africana, a mãe da Thandie Newton é do Zimbabwe. Portanto, no mercado africano o preço de uma Iapomira para estes fins não deve passar de US$ 150.
Podia ser também vingança pelo tráfico de escravos (o maior mercador de escravos do século XIX, Francisco Félix de Souza, era baiano), mas seria uma vingança meio besta: eu só gastaria 10 mil nesse caso se o alvo fosse descendente direto de portugueses ou de mercadores.
Por outro lado, só existem duas hipóteses que façam presumir a existência de um Tráfico Internacional de Iapomiras:
1) Alguns reis e chefes de nações africanas independentes ou semi-independentes ainda praticam a poligamia, como o Rei da Suazilândia e o Fon de Bafut. O atual Rei da Suazilândia Mswati III só tem 13 esposas, mas o pai dele Sobhuza II tinha "algumas centenas". Não consegui descobrir quantas tem o Fon de Bafut de hoje; contudo, o pai dele tinha 150.
Quando um cara tem algumas centenas de esposas é porque diversificou os critérios: beleza, inteligência, berço e cultura deixam de ser os determinantes. Depois da trigésima quinta esposa o cara se transforma num colecionador, e começa a escolher as próximas pelos critérios mais estrambóticos.
Pois bem: pode ser que um desses reis (ou dois deles, um competindo com o outro) esteja escolhendo só mulheres de nomes esquisitos. Nesse caso, "Iapomira" é um must. Imagine o diálogo entre o primeiro-ministro e o Rei:
- Achei, Majestade! Achei uma com um nome completamente diferente!
- Impossível. Já tenho dez Abenas, três Adanas, cinco Bahatis, duas Chizobas... Tenho quase todas as letras do alfabeto de nomes africanos repetidas, pelo menos um de cada dos nomes ocidentais, quase toda a lista de nomes orientais e...
- Mas essa se chama Iapomira!
- E onde está essa preciosidade? Preciso ter uma assim hoje! Imagine a inveja do Mwamba IV: ele tem duzentas e vinte e oito mulheres a mais do que eu, mas a maioria é de figurinhas repetidas. Iapomira ele não tem nenhuma! Onde está essa raridade?
- Feira de Santana, Bahia, Brasil.
- Pegue o jatinho e não poupe despesas. Com uma Iapomira minha coleção está completa!

A outra é explicação é o que prefiro chamar de "Hipótese Havaiana", mesmo que aconteça na África:

A África tem sete vulcões em atividade e um monte de vulcões inativos, aparentemente extintos. E os vulcões são como as mulheres: é justamente quando você pensa que está tudo tranqüilo que eles dão trabalho. O pessoal de Pompéia e do Mount Saint Helen que o diga. O que nos leva a outro diálogo entre o feiticeiro e chefe da tribo:
- N'Chefe! O Espírito do Monte N'Buji Ganga depertou e está furioso!
- N'merda! Depois de duzentos anos! Será que ele não aceita um sacrifício para adiar a erupção? No tempo do meu bisavô a ira dele se aplacou com duas virgens. Virgem hoje é muito mais difícil: veja se ele aceita bônus do tesouro suíço ou algo assim.
- N'tá difícil, Chefe: dessa vez a ira dele é imensa. Vai chover N'lava e N'fogo. Mas vou ver o que N'posso fazer.
E o feiticeiro bateu os tambores e jogar os buzos e entrou em transe e começou a pular e dançar e a saracotear e a rebolar, até que o chefe interrompeu:
- N'pára, feiticeiro! Eu não aguento mais! Você está parecendo o N'Gilberto N'Gil!
E o espírito encarnado no feiticeiro disse com voz cavernosa:
- Desta vez eu acerto as contas! Nada no mundo acalmará a minha fúria! Nada, nada mesmo! Bom... Exceto, talvez, uma Iapomira...

No segundo turno podemos esperar mais umas operações pirotécnicas da PF orquestradas pelo Márcio Cara de Tacho. Eu acho que ele faria melhor se colocasse a PF e ABINE para resolver o mistério da Iapomira: a nação aguarda ansiosa.

1.10.06

King Kong

A Folha soltou hoje no Cotidiano uma reportagem sobre micos de eleitores durante eleições passadas.

O do Micalba foi muito mais prosaico, mas de proporções catastróficas: no passado, ele já votou no Lula duas vezes.